O que se aprende numa vida inteira!

Vaguei muito tempo por diversos mundos em busca daquilo que
me tornasse feliz, nesse tempo fiz muito, mas vivi bem pouco. Eis que
então encontrei meu mundo, um local no qual me sentia apto a contribuir.
Foi lá que achei um grande sábio, criador de um império que ficaria
marcado por gerações e que serviria de abrigo para o pensamento e
conhecimento de muitos que estariam por vir.
Já numa idade avançada o sábio me disse que se sentia só. Aquela
informação me partiu o coração, como poderia ser só estando rodeado por
tantos que admiravam sua bravura e tinham nele a imagem de um grande
ícone de sua Era.
Nesse momento disse ao sábio que muitas pessoas o queriam
bem, e tinham nele a imagem do que gostariam de conquistar em seu
futuro. O sábio ficou feliz em ser alguém que inspirasse os demais, mas,
me disse que construíra um império para os outros e se esqueceu de
deixar um futuro para si.
O decorrer dos anos lhe tiraram a capacidade que outrora tinha
em participar ativamente das atividades que empenhava e agora sem mais
pertencer ao mundo criado, sentia-se um solitário vagando em meio a
multidão.
Após a conversa fui capaz de entender o quão correta estava sua
visão, talvez no fundo todos nós apenas buscássemos incessantemente
alguém que pudesse nos acompanhar pelo decorrer dos nossos dias. Que
enfrentasse os problemas e estivesse ao lado quando a beleza e a
juventude aos poucos culminassem por se extinguir. Apenas para rir dos
problemas, dividir pensamentos e afugentar a solidão.
Então conclui que sucesso é um parâmetro difícil de se regular e
postulei que é preciso realmente bem pouco pra ser feliz. Possivelmente
num mundo tão veloz como o que vivíamos, em que tudo precisava ser
feito cada vez de maneira mais rápida, as pessoas aos poucos culminaram
por ter pressa de viver.
Mas, viver o quê? Uma vida apressada... que por vezes nem lhes
dava a chance de pensar o que gostariam de fato de realizar e extrair do
seu tempo.
Vislumbrei então uma realidade distinta: nem preto e branco;
nem fantasiosamente colorida, possivelmente apenas passei a enxergá-la
em sua coloração normal.
O mundo era repleto de pessoas que passavam com muita pressa
uma pelas outras, a ponto de nem notar o que havia ao seu redor. Elas
perdiam momentos, desperdiçavam a chance de boas conversas e
esqueciam-se de viver plantando aos poucos um futuro similar ao vivido
pelo sábio.
Assim, mudei completamente meu rumo. Passei a crer que é
preciso uma vida inteira para talvez se descobrir algo tão grandioso a ponto
de mudar o mundo, mas, que em muito pouco tempo com pequenos
gestos pode-se mudar o mundo de alguém. Devolver um sorriso, acalentar
a solidão e dividir experiências.
Vislumbrei uma vida menos apressada. Talvez a muitos encantasse
a agitação e a possibilidade de ser reconhecido, mas, no fundo, eu
preferiria uma realidade bem mais simples.
De fato, eu achava preferível uma visão da natureza em sua
perfeição do que a tela de um computador e escolheria uma boa conversa
entre amigos à agitação das festas.
Talvez um local assim fosse visto como um mundinho à parte, sem
acesso a mais alta tecnologia e aos seus confortos, mas, trazia uma paz
impagável e uma felicidade que tecnologia alguma podia prover.
No fundo, apenas acredito que bem melhor que deixar ao mundo
títulos é deixar saudades e melhor que ser importante é ter quem se
importe com você. Assim, possivelmente não farei na vida uma imensa
descoberta para mudar o mundo e com certeza não entrarei para a
história. Mas, o sábio me ensinou a trazer comigo o que há de melhor; as
pessoas e o valor de uma amizade verdadeira, e isso não tem preço.