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Um Até Breve...

Olá, caros leitores e caríssimas leitoras! Como estão?  Hoje eu venho avisar-lhes por meio desta postagem que darei uma pausa com o blogue. Motivo é que estou focado no meu novo livro, que inclusive é a continuação de MUDANÇAS DE UM DESTINO. Para os leitores que já leram este livro sabem que o final da história há um gancho para continuação, sendo assim aqui estou eu para continua-lo. Quero agradecer à vocês leitores por todo apoio, incentivo e carinho com este que vos escreve. Só tenho agradecer vocês. Muito obrigado e até o ano seguinte, pois neste finzinho de 2024 não haverá mais postagens por aqui. Já de antemão desejo para vocês meus queridos e queridas leitoras boas festas, e que 2025 seja de muitas bênçãos para todos que me seguem, durante este tempo. E pra aguçar um pouquinho a curiosidade de vocês, deixarei a capa do livro para vocês darem uma espiadinha. Gostaram? É isso pessoal. Muito obrigado pelo carinho. Abraços! E até breve...

Continho: O Pastor, a víbora e meu delírio

Olá, caros leitores e caríssimas leitoras! Como estão? Curtem contos? Pois é! Hoje trago um continho pra cá. Vem conferir!



Conto: O Pastor, a víbora e meu delírio 



Era madrugada e eu havia acabado de comer um sanduíche com queijo e alface quando meu reflexo sumiu.

Fui escovar os dentes e ele não estava lá. Minha duplicata querida, que me acompanha desde sempre, simplesmente desaparecera. Demorei alguns segundos para processar aquilo, e então apaguei a luz do banheiro, fugindo daquela ausência.

Caso você esteja se perguntando: não, eu não sou um vampiro. Seria uma explicação plausível. Tampouco tenho alguma doença mental constatada (pelo menos não uma que me faça ter alucinações). Chamei minha vizinha, Paola, para mostrar o espelho e provar que não estava louco.

Ela entrou no meu apê, xícara de chá em uma das mãos, um livro na outra.

“Cadê o espelho?”, ela perguntou. Apontei para a pequena porta do banheiro. Eu estava começando a tremer de nervoso.

Ela se olhou. Tudo normal, ela disse. “Agora vem cá.”

Postei-me ao lado dela, de frente ao retângulo que era meu espelho. O queixo dela caiu. A xícara de chá também.

“Puta merda!”, foi a reação da minha vizinha. Ela se desculpou pela bebida derramada e correu de volta para o próprio apê. Alguns minutos depois, voltou com um espelho redondo, do tamanho de uma pizza média.

“Tenta nesse agora.”

“Nada”, respondi. “É medonho. O que isso quer dizer, Paola?!”

“Não faço ideia. Já sei, vou tirar uma foto sua. Me empresta seu celular”. Tirou a foto. Só a estante de livros aparecia na miniatura do mundo que era meu quarto. Nada do meu curto cabelo negro, dos meus olhos azulados.

“Deuses. A gente precisa mostrar isso pra alguém que entende do assunto. Um cientista, talvez.”

“Tá mais pra assunto de padre, Luciano.”

“Ah, pronto.”

Tirei o celular da mão de Paola e disquei o número do meu irmão. Ele atendeu, mas não parecia me escutar.

“A ligação deve estar ruim.”, comentei. Paola olhava para o espelho e fingiu não me ouvir.

“Paola, posso usar se telefone? Paola? PAOLA?!”

Sim, esse último foi um grito. E ela só olhou pra mim quando eu a segurei pelos ombros.

“Que foi, você falou alguma coisa?”

Não. Isso não é verdade. Tentei pedir o telefone mais uma vez, e ela percebeu que eu movia a boca sem emitir qualquer som.

“Espera aí, Luciano. Não sai de casa. Vou chamar o Pastor Anacleto.”, e saiu do meu apê. Gritei para que ela esperasse, mas ela obviamente não me ouviu. Eu mesmo mal pude ouvir as palavras saindo da minha boca. Fui tomado por um pânico repentino, um pressentimento de que estava sendo observado. Mas eu estava sozinho em meu apê.

Andei em círculos por quase meia hora quando Paola voltou, trazendo o Pastor Anacleto na rabeira. Ao abrir a porta, eles estancaram.

“Sim? Eu tô aqui gente!”, avisei. Eu tô invisível também?!

“Eu deixei ele aqui, Pastor. Falei pra ele não sair.”

“Espere um pouco, minha filha. Consigo sentir…”, e começou a esquadrinhar meu apê. O Pastor era albino e velho, e tinha quase dois metros de altura. Paola, por sua vez, media um metro e sessenta e cinco e desfilava cabelos alongados castanhos. Mesmo assim, o homem parecia pequeno, pois se encolhia a cada passo. “Eu sei que você está aqui, Luciano. Não se preocupe. Vou ajudar você.”

O Pastor Anacleto tirou um espelho de mão da batina. Era prateado e oval, com um punho de ouro. Ótimo, um espelho para empalar vampiros, pensei. O clérigo começou a andar de um lado para o outro, olhando por cima do ombro através do reflexo do pequeno espelho.

“Ele não está sozinho, Paola. Tem alguma coisa sugando a energia dele.”

“E você sabe disso como? Por acaso já viu isso antes?”. Paola era das minhas. Super crente.

“Sim, e nessa mesma cidade. Nesse mesmo prédio, para falar a verdade.”

Paola se calou. Eu também. Não que adiantasse alguma coisa, afinal. O Pastor parou de repente, bem próximo a mim. Fiquei com medo de tocá-lo, mas nem precisei; o homem esticou o braço e apoiou a mão no meu ombro.

“Luciano. Você dormiu bem ontem à noite? Toque na minha mão duas vezes se a resposta for não.”

Toquei na mão dele duas vezes. Eu havia sonhado com um deserto escarlate. Um deserto que só tinha um sofá envelhecido e fedorento como companhia. No pesadelo, eu tinha sentado no sofá e chorado sem parar.

“Entendo…”, ponderou o Pastor Anacleto. “Aposto que você sonhou com as Areias do Inferno. Estou certo?”, e apertei a mão dele com força. “OK. Paola, preciso da sua ajuda. Pegue uma bacia de água, encha-a com água quente e coloque-a na frente do espelho. Luciano, segure no meu ombro. E não me solte, não importa o que aconteça.”

Eu já estava desesperado naquele momento.

A bacia chegou. Água quente foi vertida. O Pastor colocou os pés no recipiente e me instruiu a fazer o mesmo. Eu podia sentir os pés dele tocando os meus.

O que o Pastor Anacleto falou em seguida não pode ser traduzido aqui ou por qualquer língua conhecida.

O tempo parou. A bacia aos nossos pés pareceu se alargar, e de repente eu estava de volta ao deserto escarlate. O Pastor Anacleto me olhava nos olhos. “Aqui eu posso te ver, Luciano”, ele disse. “Aqui, sou muito mais forte.”

Sua mão apertou minha garganta em um movimento rápido e… predatório. Essa foi a sensação que eu tive.

“Você vai ficar aqui. Vai enxergar tudo do outro lado; seus familiares chorando seu sumiço, seu apê sendo vendido, os novos moradores chegando. Até que outra pessoa venha te fazer companhia. É só ficar no sofá, sempre no sofá. Pise fora dele e ficará perdido pra sempre no deserto escarlate”, e então sorriu malignamente. “Eu sou bonzinho ao lado dos que moram no deserto escarlate.”


***


Paola foi a primeira a acordar. Eu a vejo até hoje, sentado aqui no sofá. Minha vizinha levantou e parecia completamente atônita. Perguntou ao Pastor se ele tinha conseguido me ajudar e se espantou quando viu que o senhor alto já não tinha mais cabelos brancos. Pelo contrário, ele parecia ter rejuvenescido depois de colocar os pés naquela bacia fervente.

Os dois passaram algum tempo discutindo. No final do dia, Paola aceitou que não havia o que fazer e voltou para casa. O Pastor ainda ficou lá, olhando para o espelho, para mim. E então trancou o apê, apagou a luz.

Ele ainda não pisou aqui depois de tudo isso.

Eu saí do sofá duas vezes. Não me perdi.

Na segunda vez, encontrei uma velha conhecida do Pastor Anacleto. O demônio de olhos negros e forma de víbora que jurou me ajudar quando Anacleto  aparecesse de novo.

Estamos sentados no sofá, eu e a víbora. Apenas esperando nossa oportunidade de vingança. Apenas esperando…

O Pastor Anacleto já viveu demais.








autoria: Luciano Otaciano

Comentários

  1. Oi Luciano, tudo bem?
    Adorei o conto e o plot twist. Me prendeu muito!
    Beijos,

    Priih
    Infinitas Vidas

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Priscila! Vou bem, obrigado! Ah, que bom que curtiu. Beijo!

      Excluir
  2. Luciano!!! Eu estou sem palavras!!! Mesmo já tendo lido vários livros seus, você ainda mexe comigo!!!

    ResponderExcluir
  3. Uau, Luciano! Adorei e fiquei com vontade de saber como será esse embate! Um dos meus objetivos como escritora é aprender a escrever contos, mas fico com pena dos leitores por não oferecer todas as respostas.. hahaha.. Olha, fui totalmente sugada para dentro do conto já no começo e essa história de bacia com água me lembrou muito o filme Constantine, com Keanu Reeves? Teve inspiração? Mais uma vez, adorei! Parabéns!

    Até breve;
    Helaina (Escritora || Blogueira)
    https://hipercriativa.blogspot.com (Livros, filmes e séries)
    https://universo-invisivel.blogspot.com (Contos, crônicas e afins)

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    Respostas
    1. Que bom que gostou Helaina! Sim Constantine foi uma das inspirações para criar este continho. Muito obrigado pelo seu feedback, isso é importantíssimo para quem escreve, não é mesmo?! Abraço!

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