LIVRO: Olhos D'água
ANO DE LANÇAMENTO: 2014
AUTORA: Conceição Evaristo
EDITORA: Pallas
NÚMERO DE PÁGINAS: 116
CLASSIFICAÇÃO: ★★★★★
Sinopse:
Em Olhos d’água Conceição Evaristo ajusta o foco de seu interesse na população afro-brasileira abordando, sem meias palavras, a pobreza e a violência urbana que a acometem.
Sem sentimentalismos, mas sempre incorporando a tessitura poética à ficção, seus contos apresentam uma significativa galeria de mulheres: Ana Davenga, a mendiga Duzu-Querença, Natalina, Luamanda, Cida, a menina Zaíta. Ou serão todas a mesma mulher, captada e recriada no caleidoscópio da literatura em variados instantâneos da vida? Elas diferem em idade e em conjunturas de experiências, mas compartilham da mesma vida de ferro, equilibrando-se na frágil vara que, lemos no conto O cooper de Cida, é a corda bamba do tempo.
Em Olhos d’água estão presentes mães, muitas mães. E também filhas, avós, amantes, homens e mulheres – todos evocados em seus vínculos e dilemas sociais, sexuais, existenciais, numa pluralidade e vulnerabilidade que constituem a humana condição. Sem quaisquer idealizações, são aqui recriadas com firmeza e talento as duras condições enfrentadas pela comunidade afro-brasileira.
Conceição Evaristo é mestra em Literatura Brasileira pela PUC-Rio, e doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense. Suas obras, em especial o romance Ponciá Vicêncio, de 2003, abordam temas como a discriminação racial de gênero e de classe. A obra foi traduzida para o inglês e publicada nos Estados Unidos em 2007.
Olá caros leitores e caríssimas leitoras, preparados para mais uma resenha literária. Vamos Conhecer!
Livros de contos costumam me agradar completamente, felizmente este aqui não me decepcionou. Quer saber os motivos? Confira abaixo! Sem pudores para retratar a realidade da população afro-brasileira, violência urbana e desigualdade social, cada conto traz a história fictícia, porém muitíssimo realista, de uma personagem específica.
O conto de abertura, que dá o título ao livro, soa quase como uma memória autobiográfica, mas os detalhes da história evidenciam que não - ou talvez apenas disfarcem. São tantas minúcias da relação mãe e filha que se repetem, à semelhança de um livro de receitas de família passadas adiante hereditariamente, assim como os genes da melanina. E logo aqui, já nos deperamos com a temática principal e recorrente: a marginalização e sofrimentos do povo negro.
No conto (Ana Davenga) fala sobre uma mulher cheia de personalidade, beleza, ginga, amor e sensualidade. O samba faz parte desse conto quase como personagem viva, a dança vive na vida de Ana. Ana adota o sobrenome do amado, Davenga, quando une seus destinos, seu barraco. Todos aqueles em volta de Ana parecem saber seu destino também, no alto do morro da favela, e nada além disso. Restava agora gozar a vida, até que não mais.
O Conto (Duzu-Querença) denuncia a vida na prostituição, alternativa facilmente escolhida contra a mendicância. Abandonada pelos pais na cidade grande - pais em busca de emprego para prover o sustento - a menina vive num bordel e tem ali as suas primeiras experiências sexuais.
Este que para mim é o melhor conto do livro, temos a história de (Maria) acontece dentro de ônibus. A chocante narração de uma mulher que encontra com um ex-companheiro ao tomar a condução com as compras retrata muito do que acontece com a mulher e o homem negro onde quer que ele for: ser morto por um crime que não é seu. O único crime de Maria foi se encontrar acidentalmente com o homem que um dia amou, pai de um filho seu.
Temas tabu, como o aborto, também são retratados. Mais comum do que tentam nos fazer imaginar. Outro conto que merece destaque é: (Quantos filhos Natalina teve?) reflete sobre uma mulher que vive sua quarta gravidez. A pobreza, falta de instrução e de educação sexual, a violência e o abuso mostram a situação de uma mulher que desde os 14 anos viveu gravidezes indesejadas, e os danos psicológicos acumulados. O desfecho inesperado e cruel extremamente marcantes escancaram terríveis realidades.
Uma mulher em busca de amor e na luta pela guarda dos filhos é a história de (Salinda); (Luamanda) descobre-se a si e a sua sexualidade, neste que é sem dúvida outro conto marcante do livro. Em (O Cooper de Cida), a correria da vida para nas praias de Copacabana para contemplar o mar.
O fortíssimo conto (Zaíta esqueceu de guardar os brinquedos) nos traz mais ainda da violência na favela, onde uma criança é vítima de bala perdida num tiroteio. A problemática da estrutura familiar também faz parte do enredo, gritando sobre o desespero de famílias desestruturadas, mães solteiras, crianças sem pai. A inocência aqui é completamente aniquilada pelos horrores do mundo real. O livro é completo, pois embora o foco seja de personagens femininas, temos alguns protagonistas masculinos também. (Di Lixão) está a beira da morte. (Lumbiá) é um exímio vendedor de flores, mas que as troca por chiclete por causa do lucro. Em (Os amores de Kimbá) mais uma vez falamos da sexualidade negra, o que acaba se tornando um fetiche objetificador do corpo preto. Aqui, Kimbá é um jovem que sonha em sair da favela, com uma vida diferente. (Ardoca) comete suicídio por não mais aguentar.
Provavelmente conto de maior destaque do livro, embora eu tenha preferido o que citei em linhas anteriores, (A gente combinamos de não morrer) traz três personagens principais: Dorvi, Bica e Dona Esterlinda. A família lida com o medo, a sobrevivência, a honra, a violência, a morte, o amor, o casamento, os filhos, irmãos, esperanças.
Para finalizar, (Alowuya, a alegria do nosso povo), brinca com o idioma Iorubá e traz um pouco de leveza para um apanhado de histórias fortes e chocantes, com a mensagem de esperança por dias melhores.
As palavras de Conceição Evaristo são mais do que arrebatadoras. São viscerais. E a realidade pode ser ainda mais férrea do que em seus contos. Mas a esperança permanece, o povo negro permanece. Isso não pode ser dito levianamente, não se pode esquecer da história e do sofrimento da gerações e mais gerações de um povo. Esperança é busca, luta e construção. Esse conjunto de contos é uma grande denúncia em forma de arte, e a sua beleza reside na resistência. Junte tudo isto com a escrita marcante de Evaristo, temos uma obra grandiosa, embora pequeno no número de páginas. Recomendo!
Espero que tenham curtido a resenha. Até a próxima!
O livro parece ser muito bom, Mas também parece ser um pouco pesado, não deve de ser uma leitura facil! Obrigada por partilhares, acho que vou dar uma chance ao livro ehehe <3
ResponderExcluirwww.pimentamaisdoce.blogspot.com
Oi, Marta! Sim o livro é muito bom, no entanto é um tanto pesado. Se você for uma pessoa muito sensível, é aconselhavel não lê-lo. Contudo é um livro grandioso. Abraço!
ExcluirConceição Evaristo me emociona em tudo que escreve, esse livro é arrebatador! Fico feliz que tenha gostado e espero que mais pessoas possam ler. Ótima resenha ♥
ResponderExcluirBeijos
http://www.leiapop.com/
Oi, Bruna! Conceição Evaristo é uma escritora maravilhosa. Que bom que gostou da resenha. Beijo!
ExcluirNossa, contos bem fortes e marcantes para o leitor, com certeza!
ResponderExcluirwww.vivendosentimentos.com.br
Oi, Monique! O livro é excelente. Abraço!
ExcluirOlá, Luciano.
ResponderExcluirDiferente de você não gosto de ler contos hehe. Mas esses eu fiquei muito interessada. No ano passado comecei a ler mais livros escritos por mulheres negras e ainda não conheço a escrita dela. Assim que der vou ler ele.
Prefácio
Olá, Sil! Leia sim, pois é um livro excelente. Você gostará da leitura. Abraço!
ExcluirOi Luciano, tudo bem?
ResponderExcluirA capa já chama a atenção, mas nossa, o conteúdo muito mais. Adorei a resenha e fiquei impressionada com a variedade de temas difíceis, mas necessários, que a obra aborda. Adoraria ter a chance de ler um dia!
Beijos,
Priih
Infinitas Vidas
Oi, Pri. Vou bem, e você? O livro é de uma qualidade inquestionável, e sua composição é de impressionar. Se puder não deixe de o ler. Que bom que gostou da resenha. Beijo!
ExcluirOie, tudo bem?
ResponderExcluirGostei da capa, bem bonita! Ainda não conhecia, valeu pela dica!
Blog Entrelinhas
Oi, Felipe! Vou bem, e você? Que bom que a dica lhe agradou. A capa é sim bonita. Abraço!
ExcluirParece ser um livro necessário por conta das temáticas. Parabéns pela resenha.
ResponderExcluirBom fim de semana!
Jovem Jornalista
Instagram
Até mais, Emerson Garcia
Oi, Emerson! Que bom que gostou da resenha. Se puder leia-o. Bom fim de semana. Abraço!
ExcluirOi, Fabiano! Certamente. Abraço!
ResponderExcluirEis aí um livro de contos que eu leria.
ResponderExcluirSua resenha foi meu primeiro contato com a autora, e fiquei curiosa para conhecer mais.
Abraços!
Quanto Mais Livros Melhor
Oi, Priscila! Se puder não deixe de o ler. Abraço!
ExcluirRealmente é um livro bem forte. E que bom que são contos, pois não sei se aguentaria ler os livros de cada um desses temas seguidos assim. Ainda assim, gostaria de conferir a obra um dia.
ResponderExcluirBjks!
Mundinho da Hanna
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Oi. Hanna! Se puder não deixe de conferir, pois a leitura se faz necessária. Beijo!
ExcluirEu vejo tantos elogios sobre esse livro, e fico contente que tenha lhe agradado também. Seria ótimo dar uma chance a ele.
ResponderExcluirAbraço
Imersão Literária
Oi, Leyanne! Os elogios para este livro sáo mais que merecidos. Espero que você o leia. Abraço!
ExcluirOlá, Diane! Que bom que a resenha tenha lhe agradado. Se puder não deixe de o ler, pois é um livro marcante. Beijo!
ResponderExcluirVisitando, gostei muito do seu blogue, ficando seguidor
ResponderExcluirPela resenha penso ser um livro fascinante de ler. Falar de pobreza, violência, é um tema sempre mau de se saber e existir, mas bom, para se ler.
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Feliz fim de semana
Cuide-se
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Oi, Rikardo! O livro é excelente, pois retrata com precisão a precariedade que vive grande parte da população pobre brasileira. Abraço!
ExcluirEu vejo muitas pessoas comentarem sobre esse livro, apesar de pesado parece ser uma leitura incrível. Vou adicionar na minha listinha sim! Abraços!!
ResponderExcluirhttps://wallsbooks.blogspot.com/
Oi, Wallace! Quando puder leia-o você irá gostar da leitura. Abraco!
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