LIVRO: O HOMEM INOCENTE
ANO DE LANÇAMENTO: 2019
AUTOR: JOHN GRISHAM
EDITORA: ARQUEIRO
NÚMERO DE PÁGINAS: 336
CLASSIFICAÇÃO: ☆☆☆☆☆
Sinopse: Em 1971, aos 18 anos, Ron Williamson tinha uma carreira promissora como atleta. Acabara de assinar contrato com um grande time de beisebol e de se despedir de Ada, sua cidade natal, para ir em busca do sucesso. Seis anos depois, estava de volta, com os sonhos destruídos por um braço lesionado e o vício em bebidas e outras drogas. Foi morar com a mãe e passava vinte horas por dia dormindo no sofá. Em 1982, uma garçonete de 21 anos chamada Debra Sue Carter foi estuprada e assassinada brutalmente em Ada. Por cinco anos o crime ficou sem solução, até que uma frágil evidência apontou a investigação na direção de Ron. A partir daí o herói fracassado foi perseguido, acusado, julgado e condenado à morte. O processo, repleto de testemunhas mentirosas e provas corrompidas, não só acabou de arruinar a vida já despedaçada de um homem, como permitiu que o verdadeiro assassino ficasse impune.
Olá, caros leitores e caríssimas leitoras! Como estão? Hoje é dia de resenha por aqui! Vem conferir!
Quando nos deparamos com a notícia de um crime de extrema brutalidade, como um estupro precedido de assassinato, a indignação e a revolta emergem como reações previsíveis. A frieza inerente a um ato dessa natureza, frequentemente perpetrado contra vítimas mais vulneráveis ou indefesas, ressoa profundamente na consciência coletiva, gerando a expectativa de que o culpado seja prontamente capturado e julgado. Ademais, quando confrontados com a atrocidade de um crime, muitos de nós tendemos a encarar a pena de morte como a única sanção que se faz justa e adequada. Afinal, por que haver clemência para com aqueles que são capazes de tamanhas barbaridades?
Quando uma jovem é estuprada e assassinada em uma tranquila localidade, dois sentimentos afloram de maneira imediata: a revolta e o anseio por uma punição exemplar. Compete à polícia agir com celeridade nas investigações, localizando os responsáveis o mais rapidamente possível. A sociedade anseia por isso, e o tempo é um luxo que não se pode desperdiçar. Entretanto, e se por ventura a polícia não agir com a integridade esperada em suas condutas? Em nome da justiça, é possível que princípios basilares sejam transgredidos, bastando para isso encontrar um culpado a qualquer custo.
Nos Estados Unidos, um caso insólito ocorreu na década de 1980. A polícia da cidade de Ada, no estado de Oklahoma, ignorou evidências, desconsiderou a necessidade de uma investigação meticulosa, e conseguiu coagir indivíduos a atuarem como informantes. Em conluio com a promotoria, montaram uma acusação que visava incriminar dois homens que, à revelia de qualquer prova substancial, eram considerados os autores do crime em questão.
As engrenagens dessa acusação, que culminaram na condenação à pena de morte de Ron Williamson, são recontadas com minúcia por John Grisham em sua obra O HOMEM INOCENTE, sua única narrativa de não-ficção e uma das suas mais notáveis criações. Armado com uma extensa pesquisa e entrevistas com a maioria dos envolvidos, Grisham conduz os leitores por um labirinto de uma investigação surreal, repleta de produção de provas mediante métodos dos mais questionáveis, e um conluio entre polícia, promotoria e juiz que em nenhum momento hesitou em levar a cabo sua missão de condenar aqueles que decidiram ser culpados.
Além do absurdo que O HOMEM INOCENTE revela, ergue-se a questão da pena de morte. Ron foi declarado culpado por um júri amplamente influenciado pelo espetáculo orquestrado pela promotoria e, por que não dizer, pela sede de vingança da comunidade local. Quantos inocentes poderão ter sido sacrificados pelo Estado através de julgamentos fundamentados em peças tão frágeis quanto as que comprometeram Ron? Como assegurar que a pena de morte representa a solução punitiva mais adequada para crimes hediondos quando a confiança na polícia que conduziu a investigação é, no mínimo, duvidosa?
O caso de Ron Williamson se destaca pela singularidade de sua trajetória. Acumula uma série de equívocos que, à medida que avançamos na leitura, nos levam a questionar incessantemente como se chegou a um veredito. Como foi possível proferir uma sentença em um contexto onde não existia prova consistente e o próprio réu exibia evidentes sinais de problemas psicológicos? Um homem enviado ao corredor da morte, que viu sua vida ser despojada de anos, enquanto sua saúde se deteriorava, ciente de sua inocência!
A narrativa de John Grisham é envolvente, como é característico de sua escrita. Neste livro, a reconstituição é meticulosa e detalhista, trazendo à tona inúmeros exemplos da legislação norte-americana, ilustrando decisões pretéritas e falhas que foram corrigidas em alguns casos, mas negligenciadas no julgamento de Ron. A leitura se transforma em uma verdadeira aula sobre como as fragilidades do sistema de justiça podem levar inocentes não apenas à prisão, mas à morte. É uma obra chocante e perturbadora que, embora poderia se passar por ficção, é uma história verídica. E essa realidade perturba e revolta tanto quanto a notícia de um crime brutal. É isso leitores! Até a próxima postagem!
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